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Em Caxias, concelho de Oeiras, não há quem não conheça Giovanna Bessone. Para alguns é a senhora idosa que andava de scooter. Para os mais jovens que se cruzavam com ela na estrada, era a “avozinha terrivel”.
“É o que mais vezes me chamam, por causa da personagem de uns desenhos animados, uma senhora assim da minha idade que também andava de moto”, afirmava em 2009.
Não levava a mal nenhuma das alcunhas, só não gostava quando lhe gritavam no meio da estrada.
“Posso distrair-me. É um pouco imprudente.”
Giovanna tinha 79 anos quando a fotografei para uma reportagem, publicada na revista Notícias Magazine, sobre idosos que se recusavam a baixar os braços por causa da idade.
Aos 57, dois anos depois de ficar viúva, tirou a carta de moto e arranjou o meio de transporte que a levava para qualquer lado. Divertida, contava que a carta nem custou nada a tirar, até porque “aquilo anda sozinho”.
Quem passava por ela, capacete aberto que deixava vislumbrar os seus ondulados cabelos brancos, não conseguia deixar de largar uma gargalhada. As amigas também se riam e não escondiam uma pontinha de inveja. A maioria delas há muito que tinha deixado de conduzir e passava a vida a pedir boleia às que ainda se aventuravam na estrada. Giovanna nunca levava ninguém "à pendura”, só uma ou outra vez o neto “para ir comer um gelado”.
Hoje, com 92 anos, já não anda de moto para fazer a vontade aos filhos, após uma pequena queda em 2018. Mas o espírito continua jovem, livre e destemido. Tal como afirmou à Notícias Magazine, “nunca me senti infeliz. Oxalá tenha possibilidade de viver mais anos com saúde. Eu sei que a velhice ataca sempre, mas não me sinto obcecada a pensar no futuro.”
Giovanna olhava para a scooter como o seu mote de viragem. Era a sua forma de se manter livre, de fazer as suas coisas sem precisar de ajudas e que lhe permitia não ficar horas intermináveis em casa ou num lar a ver televisão.
Um exemplo de vida para quem não aceita desistir após a reforma. Até porque, todos sabemos, velhos são os trapos.
O que é FOTOGRAFIAS COM HISTÓRIA?
É a história de fotografias, mas não só. É tudo aquilo que me define enquanto profissional. Durante as 52 semanas de 2022, partilharei semanalmente, às segundas-feiras, uma imagem minha com a descrição do que a envolveu e representa. Fotografia é muito mais do que técnica. É sensibilidade, memória e emoção. É, como dizia Henri Cartier-Bresson, "colocar na mesma linha a cabeça, o olhar e o coração".
Sobre o autor: António Pedro Santos é fotojornalista. Esta história foi publicada originalmente no linkedin do autor