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Efetivamente noto que o Governo Local está cada vez mais sensível para a realidade demográfica.
Ainda recentemente a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa lançou o “Referencial Govint para a promoção do Envelhecimento na Comunidade”.
Um documento de referência que apresenta um modelo de governação para o desenvolvimento de territórios que sejam promotores da longevidade positiva e intergeracional.
Desse documento destaco a introdução escrita pela jurista Paula Guimarães e que diz o seguinte:
“O envelhecimento em Portugal tem sido encarado de forma parcelar e descontínua, sem estar devidamente alicerçado num diagnóstico holístico e sem a congregação de perspetivas multidisciplinares.
Apesar de constituir um dos maiores desafios das sociedades contemporâneas, nunca mereceu:
O Conselho Nacional para a Política da Terceira Idade foi desativado e o recém-criado Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade e Segurança Social não valoriza devidamente este tema.
A ausência de um pensamento estratégico e integrado sobre o envelhecimento e os desafios que coloca no panorama nacional originou o aparecimento de medidas desfasadas, por vezes contraditórias e movidas por impulsos políticos sem seguimento.
Os conceitos da moda surgem e desaparecem sem deixar raízes e sem produzirem um pensamento prospetivo sobre as necessidades dos mais velhos, a preparação das etapas da vida, o desenho das respostas sociais e o enquadramento social e jurídico.” (pag. 12)
Em síntese, aquilo que a o texto chama a atenção é para a ausência de um modelo de governação que trace as linhas orientadoras de uma estratégia, e posterior implementação, para o envelhecimento.
Sabendo que este tema tem sempre dois lados da moeda, o do déficit e do superavit (termo a que estamos muito pouco acostumados), o foco principal é colocado do lado do déficit, no sentido de sensibilizar para a importância de combater os riscos inerentes ao envelhecimento, principalmente numa sociedade como a portuguesa, das mais envelhecidas do mundo e com uma forte percentagem de pessoas com 65 e mais anos de idade em pobres ou em risco de pobreza.
Quero neste artigo reforçar estas palavras da jurista Paula Guimarães chamando a atenção também para o lado do potencial de impacto económico positivo que o envelhecimento e a longevidade possuem. Para os mais céticos sugiro que vejam o que está a ser feito por países como o Japão, Croácia, Reino Unido, Canadá, entre outros.
O aumento da esperança média de vida, aliado a quase inexistente reposição geracional, gerou esta realidade demográfica a que se chama de “envelhecimento da sociedade”.
O facto de termos um peso crescente de pessoas com mais de 60 anos no total da população, impacta a sociedade de forma transversal e complexa.
Mais, e de forma heterogénea, porque as pessoas não envelhecem todas da mesma forma nem os seus:
O que vem tornar ainda mais complexo o processo de transformação da sociedade numa sociedade intergeracional e para todos.
Neste ano pudemos assistir ao lançamento do Livro Verde para o Envelhecimento, que esteve em consulta pública até 21 de abril.
Nele está plasmada as bases daquela que poderá ser uma estratégia da União Europeia para a “Silver Economy” (termo usado pela UE).
Isto quer dizer que a União Europeia está a caminhar para um segundo nível de preocupações com a integração do envelhecimento, havendo já um foco no potencial positivo que este fenómeno demográfico gera.
A questão que se coloca então, é que Portugal está a fazer no sentido de:
(1) caminhar para ser cada vez mais um país promotor da longevidade positiva
(2) promover de facto o desenvolvimento da economia da longevidade.
Que eu saiba, muito pouco, quase nada.
Temos um documento que espelha aquilo que pode ser um projeto de promoção do envelhecimento saudável e ativo, temos algumas políticas de promoção da empregabilidade das pessoas 50+ e de combate aos aspetos negativos do envelhecimento, promovidas pelo Governo nas áreas da proteção social e promoção do emprego e pouco mais.
Como membro da maior rede mundial de inovação ligada ao envelhecimento (Aging2.0) e expert na área da economia da longevidade tenho, por um lado, vindo a colaborar com algumas cidades no início do desenho de uma estratégia para o desenvolvimento da referida economia da longevidade.
Por outro, tenho vindo a estudar o que se está a fazer, a nível mundial, na área da economia da longevidade.
Mais concretamente, que tipo de estratégias estão a ser pensadas e desenvolvidas por diferentes países, em particular por aqueles que já apresentam uma estratégia para o desenvolvimento desta economia da longevidade.
Países como Japão, que desenhou uma estratégia para ser uma sociedade promotora da longevidade (uma sociedade para centenários),
já possuem uma estratégia nacional para a longevidade.
Mas aqueles que estão à frente são os que possuem uma estratégia tanto a nível nacional como local, como é o caso do
Estes não são os únicos a nível mundial, mas destaco para chamar a atenção para aquilo que considero serem os mais inteligentes na forma como encaram a longevidade e o envelhecimento, como uma forte via de crescimento económico, com impacto direto no PIB, seja através da promoção de soluções que promovam uma sociedade amiga das pessoas mais velhas, seja através da promoção da inovação e da indústria tecnológica, ou mesmo através da criação de um cluster para a promoção da economia da longevidade como é o caso da Irlanda.
Posto isto, e de volta ao ponto pelo qual iniciei este artigo, é com prazer que vejo alguns autarcas e potenciais futuros autarcas, a encararem a longevidade como uma componente de crescimento económico e de promoção da sustentabilidade social. Gostava que este movimento estivesse mais difundido pelo país e que o Governo central de facto entrasse numa lógica de alinhamento com as economias mais desenvolvidas e bem sucedidas e que encarasse também a longevidade como algo positivo que aconteceu à sociedade portuguesa.
Ana João Sepulveda
CEO 40+ Lab
Embaixadora da rede Aging2.0 para Lisboa
Ana.sepulveda@40maislab.pt