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É raro associar beleza, envelhecimento e mulher tudo numa conversa. “Mas o envelhecimento é o melhor que pode acontecer às mulheres. Sim, traz chatices, sim, traz dentaduras postiças, sim, traz peles moles, sim, traz dores e sim, traz mais perdas. Mas é no espírito que, com o envelhecimento, as mulheres se fortificam e se tornam muito mais livres…e é tão bom deixarmo-nos tocar por essa beleza”, explica a artista plástica Maria Seruya que, há três anos, fundou o projeto Velhas Bonitonas.
“A beleza tem idade e não é para ser escondida. Pode ter um mês, oito, 40 ou 100 anos. Mas é para ser celebrada cada dia, mês e ano”, salienta.
O projeto Velhas Bonitonas pretende passar uma mensagem de valorização da mulher dos escalões etários mais avançados. Através desta iniciativa de pintura, Maria Seruya tem desconstruído e desmistificado imagens e atitudes de discriminação para com o envelhecimento feminino.
A artista plástica pinta caras de “mulheres velhas imaginárias que não são ninguém, mas são muita gente”. Apaixonada pela beleza real – “aquilo que somos quando estamos alinhadas com a verdade” –, é no envelhecimento feminino que a artista a encontra em todo o seu esplendor.
A sua missão é “inspirar mulheres de todas as idades a terem esperança na vida”. Caminha nesse percurso “de amor dentro e fora de si, ao lado de todas essas mulheres”. “E ganho muito mais do que dou”, confessa.
Tem havido casos muito fortes de transformação, de acordo a artista. Dá o exemplo de uma mulher que pintava o cabelo de vermelho, passando a pintar da sua cor original quando apareceram os cabelos brancos. Inspirada pelo Velhas Bonitonas, voltou a pintar o cabelo de vermelho. Outro caso é o de uma mulher que sofre de ataques de pânico e escolheu uma Velha Bonitona como exemplo de alegria, paz e leveza, “sendo uma contribuição de valor para a sua recuperação”. Maria acredita que as obras quando terminadas, deixam de ser suas. “Terminam no observador, que as completa”.
Das telas para o real
A energia das Velhas Bonitonas começou nas telas e ganhou vida no real. Teve sempre o apoio de pessoas individuais, mas também de marcas e até de associações ligadas ao envelhecimento, levando a exposições, workshops, convites, e iniciativas.
Maria Seruya realizou três exposições individuais. Duas como convidada da Câmara Municipal de Lisboa e da Universidade Nova de Lisboa e a terceira na Antiga Carpintaria do Museu da Carris.
A artista plástica participou, além disso, como palestrante em conferências sobre arte e envelhecimento. Foi entertainer num leilão para 300 pessoas para a Fundação Maria Cristina organizada pela plataforma Women in Business. Visitou lares como o Centro Social da Trafaria, doando um mupi para a paragem de autocarro no Parque das Reminiscências, “vila” que acolhe pessoas com demência, dando aos utentes liberdade para passearem sem perigo.
“Celebrar a beleza das rugas”
Realizou, além disso, os workshops de preparação para o envelhecimento “Velhas Bonitonas, como ser uma delas?”, em parceria com Luisa Pinheiro, da Associação Cabelos Brancos, ativista contra o Idadismo. Prepara, em parceria, três novos formatos de workshops: sensualidade, autoestima e motivação no envelhecimento feminino.
Maria Seruya está, ainda, a desenvolver com uma profissional de coaching um produto de desenvolvimento pessoal que promove a beleza do envelhecimento feminino.
Está a realizar uma pós-graduação em psicogerontologia no ISPA, “por ter sentido necessidade de refletir profundamente sobre o envelhecimento”.
O próximo passo é a internacionalização do projeto, através de uma exposição em homenagem pela primeira vez a uma Velha Bonitona real e internacional, cujo nome ainda não revela.
Há ainda o projeto “A sua Velha Bonitona”, cujo objetivo é que a mulher sinta a passagem do tempo com esperança. Mulheres dos “30 aos 130” podem ser pintadas e a finalidade não é retratar a pessoa na sua velhice, mas sim uma Velha Bonitona inspirada em si. O que a autora pede como inspiração é um texto personalizado para a realização da obra, escrito pela pessoa ou uma dedicatória que acompanhará o quadro.
E muito mais há a fazer. “O essencial é celebrar continuamente a beleza das rugas, a beleza da vida, da nossa e de todas as mulheres. Somos bonitonas pelo amor que transportamos, essa é a verdadeira beleza que dura até ao fim da vida e, em certos casos, que nem a morte rouba”.