Introduza o seu e-mail
Se durante muitos anos estivemos focados no aumento da esperança média de vida, hoje ambicionamos algo maior: viver mais anos e saudáveis por mais tempo.
Estamos a adotar um novo paradigma de longevidade, a que a ciência tem chamado longevidade 3.0. É a transição de um conceito de esperança média de vida, para um conceito de qualidade de vida por mais anos.
Associada desde sempre à longevidade, a esperança média de vida é «um parâmetro que tem sido utilizado para medir a saúde de um povo», explicou a professora Ana Teresa Freitas, catedrática no Instituto Superior Técnico, cofundadora e CEO da HeartGenetics, Genetics and Biotechnology.
Oradora na conferência “Longevidade: Precisão e Prevenção Precisa”, uma iniciativa da Culturgest, e que decorreu online, no dia 20 de maio, a professora Ana Teresa Freitas não deixou de notar a impressionante evolução da esperança média de vida. «Em Portugal, em 1941, a esperança média de vida era de 49 anos. E isto quer dizer que as pessoas que hoje têm uma idade em torno dos 70 anos, quando nasceram, tinham uma esperança de vida que é quase metade da vida que vão viver. O que nos pode levar a perguntar se os bebés que estão a nascer hoje vão viver 120 anos? Em média vão. E isto quer dizer que muitos vão viver mais do que 120 anos».
«O conceito de 'envelhecimento' é algo realmente muito novo», começou por referir a professora, explicando que até meados do século XIX, a esperança média de vida era de 30/40 anos. Esta muito curta longevidade, que acompanhou a maior parte da nossa existência, é designada por 'longevidade 1.0' e pode ser modelada de uma forma muito simples: «as pessoas nasciam e viviam saudáveis e no primeiro evento de doença ou acidente morriam».
A transformação começa a ocorrer entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com uma sequência de progressos tecnológicos e científicos que permitiram o aumento expressivo da esperança média de vida. «Houve três eventos muito relevantes: o saneamento básico, a descoberta das vacinas e dos antibióticos», resumiu. «Com estas três ferramentas foi possível termos uma transformação de paradigma e passar para aquele que temos hoje e que chamamos de 'longevidade 2.0'. Nascemos saudáveis e vamos gerindo a doença e as nossas funções fisiológicas ao longo da vida».
Este paradigma trouxe-nos avanços extraordinários, nomeadamente, a democratização da medicina, o acesso aos cuidados de saúde por mais pessoas. A «longevidade 2.0 permitiu que as pessoas vivam mais», reconheceu a especialista não sem questionar «mas será que vivem mais saudáveis?».
Na realidade uma percentagem significativa da população sofre de uma doença crónica a partir dos 45 anos de vida. E Portugal é um dos países onde a população apresenta um menor número de anos de vida saudável depois dos 65, apesar de viver em média até aos 82 anos.
A ciência trabalha hoje para adotar um novo modelo de longevidade, em que é possível viver mais e com mais saúde. «Eu acredito num modelo de longevidade em que as pessoas nascem saudáveis, mantêm-se saudáveis durante muito tempo da sua vida e só num curto espaço de tempo é que adoecem», afirmou Ana Teresa Freitas. Na longevidade 3.0 o objetivo é «morrer saudável, o mais tarde possível».
«Eu gostava muito que o século XXI fosse o século em que pudéssemos voltar a falar de uma medicina centrada nas pessoas», reconheceu a especialista. «E digo voltar porque este conceito não é novo. Hipócrates dizia que a medicina é cuidar de pessoas e não de partes de pessoas. E mais do que isso, dizia que cuidar do bem-estar, do exercício físico, da alimentação fazia parte do papel do médico. Os médicos deviam ser formados para tratar pessoas e não doenças».
Outro conceito que também não é novo, mas que nunca como hoje estivemos tão preparados para implementar, é designado por medicina dos '4P': a medicina personalizada, preventiva, precisa e participativa.
Tal como em tantos outros domínios, a área da saúde está atualmente a sofrer alterações importantes, resultado da transformação tecnológica e do desenvolvimento de uma sociedade altamente digital, com dispositivos portáteis de autoavaliação e automonitorização. A medicina do século XXI pretende-se que seja baseada na informação clínica personalizada, preventiva, precisa e participativa.
Citando a professora Ana Teresa Freitas «a tecnologia está a permitir o desenvolvimento deste modelo de longevidade 3.0 e a fazer avançar a concretização desta medicina centrada no paciente».
A conferência online 'Longevidade: Precisão e Prevenção Precisa', decorreu no dia 20 de maio, e integra o 'Ciclo Longevidade', uma iniciativa da Culturgest, em parceria com a Fidelidade. Pode assistir à conferência completa no vídeo abaixo ou no Youtube da Culturgest.
Nesta conferência, além da professora Ana Teresa Freitas, participou também Maria do Carmo Fonseca, professora catedrática na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes. Sobre a intervenção da professora Maria do Carmo Fonseca, não deixe de ler o nosso artigo 'Amortalidade': ser imune ao passar dos anos.
Destaque ainda para as participações de Hedi Peterson, do Projeto Genoma, na Estónia, e de Jonas Almeida, investigador permanente e chief data scientist da Divisão de Epidemiologia e Genética do Cancro no Instituto Nacional do Cancro nos Estados Unidos da América.