Da pandemia a uma sociedade mais colaborativa | Sociedade

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Da pandemia a uma sociedade mais colaborativa

30/05/2020 | Fernanda Cerqueira

Porque juntos somos mais fortes. FOTO UNSPLASH Porque juntos somos mais fortes. FOTO UNSPLASH

Nos últimos meses assistimos à mobilização da comunidade científica, bem como à auto-organização da sociedade, com o objetivo comum de combater a pandemia apoiando o Sistema Nacional de Saúde e os cidadãos mais vulneráveis. Reinventamo-nos como profissionais e aprofundamos o verdadeiro significado de sociedade, respondemos da melhor forma que pudemos para travar os avanços da doença.  

A comunidade científica aliou-se ao Governo e aos vários Ministérios na testagem. A indústria mobilizou os seus recursos, materiais e humanos, na produção daqueles que eram os bens mais escassos: máscaras, viseiras e gel desinfetante. Surgiram, a uma velocidade vertiginosa, soluções tecnológicas de resposta às novas necessidades do 'Estudo em Casa', da organização e redistribuição dos materiais essenciais. Perdeu-se a conta ao número de refeições oferecidas por restaurantes aos profissionais de saúde e ao número de quartos disponibilizados por hotéis e alojamentos locais para receber os nossos profissionais de saúde.

Na perspetiva de Mónica Bettencourt Dias, Diretora e Investigadora Principal do Instituto Gulbenkian de Ciência, que falou, no dia 20 de maio, durante a conferência online ‘Ciência e Sociedade: da pandemia a uma sociedade mais colaborativa’, conseguimos ter «uma colaboração inter-institucional, a abertura da ciência à sociedade, bem como aos outros cientistas, a proximidade à sociedade e a flexibilização de processos».

 

Mas, até que ponto a colaboração veio para ficar?

Na opinião de Pedro Calado, Diretor Adjunto do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, Coordenador do Fundo de Emergência Covid-19 da Fundação Calouste Gulbenkian, «aquilo que vivemos nas últimas semanas foi muito conjuntural. Foi o contexto que nos fez ter este inimigo comum e isso ajudou muito claramente a focalizarmos na resposta a esse desafio. Não é garantido que passemos desta situação para uma situação estrutural».

E explica que «aqueles que veem neste vírus uma metáfora perfeita de um problema global que requer uma resposta global têm do outro lado aqueles que veem neste vírus ‘o vírus chinês’ e que com isso apelam ao fechamento, ao nativismo a um certo protecionismo». Assim, ou «vamos ter uma sociedade mais colaborativa» porque «vemos nestes processos, processos globais que precisam de respostas globais colaborativas» ou, pelo contrário, «vamos ter, eventualmente, algum nacionalismo».

 

E de repente todos nos mexemos para ajudar

Foi convidada deste debate, a Ministra do Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva que começou a sua intervenção por referir que «o centro de resposta a uma crise desta natureza é sempre uma resposta pública», para logo realçar que «a participação da academia, da sociedade civil, dos investigadores das instituições foi muito significativa».

A primeira dimensão desta participação, que a Ministra fez questão de destacar, tem a ver com a parceria do Governo com a academia no acompanhamento técnico e científico às decisões políticas.  

O segundo grande contributo tem a ver com a participação das instituições científicas nos processos de testagem. «Pudemos sempre contar, desde muito cedo, com a comunidade científica de todas as maneiras possíveis, com experiência, com conhecimento sobre testes e também com materiais para pudermos cumprir um daqueles que foram os primeiros requisitos da Organização Mundial de Saúde: ‘testar, testar, testar’». E sublinhou que «não teria sido possível, sem a comunidade científica, sem as universidades, sem as instituições, que connosco colaboraram, sermos hoje um dos países, a nível europeu, com mais testes por milhão de habitantes». Segundo os números avançados pela Ministra do Estado e da Presidência, em Portugal, foram «realizados mais de 675 mil testes, menos de metade deles, cerca de 44%, realizados por laboratórios públicos, cerca de 40% por laboratórios privados e cerca de 15% por outras instituições na sua maioria universidades, institutos politécnicos e centros de investigação».

A terceira dimensão destacada por Mariana Viera da Silva foi a participação da sociedade portuguesa na resposta social a esta crise, «absolutamente fundamental». É o caso do ‘Estudo em Casa’, em que «foi preciso num espaço de tempo muito curto montar uma resposta televisiva para que pudéssemos chegar às crianças que têm menos acesso tecnológico».   

Referiu também a importância da pronta resposta das empresas nacionais, não só das startups, mas também das empresas mais tradicionais.

 

Pessoas que se puseram em marcha pelo seu país  

Foi o caso do movimento Tech4COVID19, um dos casos de sucesso no desenvolvimento de soluções tecnológicas de resposta à Covid-19. Esta é uma iniciativa de vários fundadores de startups tecnológicas portuguesas e que reúne, atualmente, mais de 5000 pessoas, envolvendo 250 empresas, em cerca de 40 projetos. Tiago Carvalho, CEO LabOrders, e coordenador de um dos projetos da  Tech4COVID19, foi um dos convidados deste debate em que partilhou não só a história deste movimento como a sua experiência pessoal no projeto que coordenou. 

A Ministra do Estado e da Presidência, Mariana Viera da Silva, encara o futuro com otimismo, mas reconhecendo que «as maiores dificuldades nestas parcerias entre o Estado e a sociedade civil, normalmente, não acontecem no início dos processos. Já vimos noutros casos que é na continuidade que se torna mais difícil o processo colaborativo». Rematou dizendo que «julgo que, todos, Estado e setor social e setor privado têm um desafio para manter este nível de cooperação».

 

'Ciclo Variável Mundo Novo' é uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian

O debate online 'Ciência e Sociedade: da pandemia a uma sociedade mais colaborativa' decorreu no dia 20 de maio, no âmbito das sessões “Ciclo Variável Mundo Novo”, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian. Pode assistir ao debate completo no vídeo abaixo ou no Youtube da Fundação Calouste Gulbenkian.

Neste debate participaram Mónica Bettencourt Dias, Diretora e Investigadora Principal do Instituto Gulbenkian de Ciência, Tiago Carvalho, CEO LabOrders, Coordenador do RecEPI (Tech4COVID19), Pedro Calado, Diretor Adjunto do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, Coordenador do Fundo de Emergência Covid-19 da Fundação Calouste Gulbenkian e Mariana Vieira da Silva, Ministra do Estado e da Presidência. A sessão foi moderada por Joana Lobo Antunes, Coordenadora da Área de Comunicação, Imagem e Marketing do Instituto Superior Técnico.