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Depois do confinamento muitos de nós sentiram uma quebra no desempenho cognitivo e até sinais de depressão. E mesmo agora, numa fase em que 70% da população nacional já tem pelo menos uma dose da vacina, a falta de concentração parece de alguma forma persistir.
É do conhecimento geral que o stress é prejudicial para a nossa saúde, especialmente, quando experienciado por um longo período de tempo. O stress aumenta o risco de doenças cardíacas, problemas de sono, transtornos de humor, ansiedade e depressão. Também a nossa capacidade cognitiva sofre com o impacto do stress, isto porque o stress mata as células cerebrais e até diminui o tamanho do córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pela memória, concentração e aprendizagem.
Com efeito, o impacto da pandemia vai muito além do vírus e tem tido repercussões na saúde física e mental de muitos de nós. «A pandemia não foi apenas um evento stressante, foi uma coleção de muitos eventos stressantes em simultâneo», lê-se no artigo «I have ‘pandemic brain’. Will I ever be able to concentrate again?», The Guardian. A par do stress, medo e ansiedade que viver a pandemia causou em cada um de nós, a pandemia implicou também interrupções nas nossas atividades físicas e sociais.
«Vai levar algum tempo para nos recuperamos», comenta Mike Yassa, diretor do Centro de Neurobiologia da Aprendizagem e Memória da UC Irvine e da UCI Brain Initiative. Não obstante, estamos finalmente «na trajetória para a recuperação».
Barbara Sahakian, professora de neuropsicologia clínica da Universidade de Cambridge, tem trabalhado em parceria com pesquisadores da Fudan University para avaliar os efeitos do isolamento social e da solidão no cérebro das pessoas durante a pandemia. Na sua opinião os impactos, em várias regiões do cérebro, são «profundos». «Vimos mudanças de volume nas regiões temporal, frontal, occipital e subcortical do cérebro, na amígdala e no hipocampo em pessoas que estão socialmente isoladas», comenta Barbara Sahakian.
A boa notícia é que apesar dos grandes impactos da pandemia, o nosso cérebro é uma máquina extraordinária e que com tempo e com ajuda pode recuperar.
Todos conhecemos os benefícios do exercício físico e entre eles a produção da endorfina – a hormona da felicidade – que contribui para uma sensação de bem-estar. Mas há também evidências científicas de que atividade física melhora o funcionamento cognitivo. O exercício aumenta a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do sistema nervoso para mudar a estrutura e o seu funcionamento ao longo da sua vida, como reação à diversidade do meio envolvente. Este potencial adaptativo do sistema nervoso permite ao cérebro recuperar-se de transtornos ou lesões, e pode reduzir os efeitos de alterações estruturais produzidas por patologias como a esclerose múltipla, Parkinson, degradação cognitiva, doença de Alzheimer, entre outras.
Efthymios Papatzikis, professor da Universidade Metropolitana de Oslo, estuda a neurociência da música, e confirma que simplesmente ouvir música aumenta a produção de oxitocina, o que geralmente contribui para sentimentos de empatia e boa vontade. «Não sabemos exatamente como isso acontece, mas vimos o impacto», refere.
Parar. Realmente parar. E contemplar. Este é possivelmente o conselho mais difícil de colocar em prática, mas meditar é um hábito saudável e que numa sociedade cada vez mais agitada permite acalmar a mente.
Além de poder ajudar a diminuir os níveis de stress, a melhorar a capacidade de concentração e o humor, a meditação promove uma sensação de calma, de tranquilidade e de paz interior.
Fonte: «I have ‘pandemic brain’. Will I ever be able to concentrate again?» The Guardian.