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Encontre o seu “Ikigai” e encontrará o seu propósito de vida

28/06/2022 | Ana Marquilhas

Descobrir o nosso propósito é chave para a nossa longevidade Foto: DR Descobrir o nosso propósito é chave para a nossa longevidade Foto: DR

Temos de agir de alguma forma. Não podemos continuar a “meter a cabeça na areia”. Há que encontrar soluções para uma nova realidade que por ser cada vez mais frequente, afeta milhares de pessoas, gerações inteiras.

E qual é essa realidade?

De forma muito simplista, representa todo o contexto que surge da dificuldade em que se encontram as pessoas que buscam a reforma ou pré-reforma, ou que são forçadas a aceitá-las. A vida profissional acaba e, de repente, deparam-se com um vazio terrível.

E por que razão acontece este vazio?

George Jerjian,  autor de “Dare to Discover Your Purpose: Retire, Refire, Rewire”, dedicou-se ao estudo desta questão.

Isto porque ele próprio passou por essa experiência, quando aos 50 anos foi obrigado a reformar-se e durante 10 anos sentiu na pele:

  • a falta de entusiasmo,
  • falta de energia
  • sensação de estar preso.

No fundo, o tal vazio, aquilo que tantos sentem e que traz consequências para a saúde tanto mental como física.

Com base no seu testemunho e estudos, encontramos algumas respostas. Uma delas é que o maior desafio da reforma ou pré-reforma (aquele período da vida que tantos ambicionam atingir) pode ter muitos significados.

Na sua investigação, perguntou a 15 mil indivíduos com mais de 60 anos:

 “Qual é o seu maior desafio na reforma?”

e as respostas dividiram-se em três áreas:

  • saúde,
  • identidade
  • arrependimento.

No campo da saúde, por exemplo, os inquiridos responderam:

  • “tenho que manter a mente saudável e adicionar valor ao mundo”,
  • “tenho medo de morrer com dor e do desconforto”,
  • “quando se tem 70 anos com um problema cardíaco, não se recebe muito mais oportunidades”, entre outras.

Alguns afirmaram ter medo de perder a sua identidade criada ao longo da vida, enquanto outros receavam que as pessoas não os vissem mais.  Houve ainda quem referisse sentimentos de rejeição, interiorizados, mas não expressos.

Por fim, o arrependimento:

  • “sinto falta de fazer o trabalho que amo”,
  • “não acho que a reforma seja para mim. Quero voltar a dar aulas”,
  • “não sei o que fazer com o meu tempo. Sinto-me perdido", foram algumas respostas.

Para George Gerijan, estas preocupações tinham algo em comum: faltava àquelas pessoas encontrar um propósito! Ou seja, no fundo, uma tomada de consciência do que querem ser e fazer quando deixam o mercado de trabalho.

É necessário interiorizar que só nos reformamos da nossa profissão, não da nossa vida! O que muitas vezes acontece é que quando paramos de trabalhar, deixamos toda uma identidade criada ao longo da nossa carreira, com intensa atividade, tarefas, reuniões, encontros e prazeres apenas relacionados com a profissão e de repente fica um enorme vazio. O tal!

Nesse sentido, é fundamental encontrar aquilo a que se chama o propósito de vida.

Não é uma tarefa fácil, é verdade, mas existe um conceito japonês que pode ajudar muito. Chama-se “Ikigai” e significa “razão de ser” ou como os franceses também dizem “raison d’être”.

Há quem afirme que a longevidade dos japoneses está intimamente relacionada com o conceito de Ikigai

De acordo com a tradição japonesa, todos possuem um Ikigai bastante óbvio. Entretanto, a maioria das pessoas não consegue encontrá-lo ou não vive de acordo com ele.

 

Como chegar ao Ikigai?

Este conceito na versão ocidentalizada baseia-se na ideia de que existem quatro componentes que um indivíduo tem de identificar para encontrar o seu propósito.

Cada componente é representado por uma pergunta. O objetivo é encontrar a atividade que lhe permita responder afirmativamente a qualquer combinação destas quatro perguntas:

1 - Está a fazer uma atividade de que gosta?

2 - É bom nisso?

3 - O mundo precisa do que está a oferecer?

4 - Pode ser pago para fazê-lo?

Se conseguir responder a estas perguntas que se baseiam na sua paixão, na sua vocação, na sua profissão e na sua missão, irá encontrar o seu Ikigai.

(Diagrama de Mark Winn / Andrés Zuzunaga)

 

Se quiser aprofundar, Ken Mogi, um neurocientista japonês e especialista em felicidade, também sugere averiguar se essa atividade tem os cinco pilares que permitem que seu Ikigai prospere, nomeadamente:

- A atividade permite que comece numa pequena escala e que melhore com o tempo?

- A atividade permite que se sinta realizado?

- A atividade procura harmonia e sustentabilidade?

- A atividade permite que aproveite as pequenas coisas?

- A atividade permite que se concentre aqui e agora?

Num nível mais profundo, Ikigai refere-se às circunstâncias emocionais dentro das quais sentimos que a nossa vida é valiosa à medida que avançamos em direção aos nossos objetivos.

Num tempo em que muitos indivíduos se reformam, ou são obrigados a fazê-lo aos 50, 55 anos, tendo ainda pela frente muitos anos de vida ativa, esta ferramenta pode ajudar a encarar esta nova etapa com maior qualidade.

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