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É psicóloga, professora catedrática e autora de vários livros relacionados com o sono e com a psicologia de família. Com 81 anos bem conservados e uma vida pessoal e profissional plena de realização, Helena Rebelo Pinto está mais do que avalizada para dar conselhos sobre a preparação para um bom envelhecimento. Diz, porém, que, “por ser psicóloga” prefere dar sugestões a conselhos.
A primeira sugestão que deixa é que as pessoas procurem pensar nesse processo, na medida do possível, sendo dono do seu próprio destino. “O pior que pode acontecer às pessoas no processo de envelhecimento é demitirem-se de si próprias”, aponta.
“Se alguma sugestão posso dar às pessoas é que pensem no assunto e encontrem dentro de si e à sua volta oportunidades de se sentirem bem e serem úteis. Isto vem muito de nós. É um tema que tem de ser encarado pelas pessoas”.
Algo importante é “saber balancear” o trabalho com o lazer. “Procuro, ao longo do dia, ter o que chamo de bolsas para respirar. Gosto muito de ler, de ir ao cinema, de ir ao teatro, de ouvir música, de andar a pé. Gosto do campo. Gosto de muitas coisas diferentes, mas de um lazer ativo, não gosto da ‘pasmaceira’”. No presente, o lazer de Helena Rebelo Pinto “tem muito a ver” com a interação familiar. “Tenho sempre a casa aberta”, conta.
A propósito de equilíbrios, a psicóloga realça que o que a faz feliz é a harmonia interior. “Essa harmonia também é importante nos vários papéis que temos. O mundo atual está sempre a discutir o conflito trabalho-família e conseguir harmonizar os diferentes papéis, o que nem sempre é fácil. E para as mulheres mais do que para os homens. Outra harmonia importante é em relação às outras pessoas. Também a harmonização do ponto de vista espiritual é muito importante para mim”.
Licenciada e doutorada em Psicologia, professora catedrática, especialista em sono, coordena o Instituto de Ciências da Família e o mestrado em Ciências da Família da Universidade Católica, em Lisboa. Os desempenhos profissionais de excelência foram causa maior para Helena Rebelo Pinto ter ganho, em 2018, o Prémio Envelhecimento Ativo Dra. Maria Raquel Ribeiro, da Associação Portuguesa de Psicogerontologia.
A docente universitária explica que é a curiosidade, mas também a vertente social que a movem. “Sou uma mulher de pensamento, mas sou também e muito, uma mulher de ação. O espírito científico é fundamental, mas interessa-me sempre aquilo que pode ser aplicado e transformado em qualquer coisa que seja útil. Portanto, a curiosidade, mas também a utilidade são o que me move. Além disso, também me move uma certa gratidão social, no sentido em que as pessoas são alvo de investimentos das suas famílias e do seu país, pelo que acho que, enquanto tivermos energia, temos de extrair de nós aquilo que julgamos ser útil para os outros”.
Interesse tardio pela psicologia
Nascida em Lisboa e com família, pela parte do pai, no baixo Alentejo, Helena Rebelo Pinto recorda uma infância feliz e com a presença de muitos amigos e família alargada, entre a qual a irmã, cinco anos mais nova. “A minha juventude foi passada numa época bastante diferente da atual. Estávamos no antigo regime e a vida dos jovens era bastante normativa. Só fazíamos o que era suposto fazer. Havia menos raparigas na universidade. Porém, fiz ensino básico, secundário e universitário. Não era muito habitual na minha época, mas eu tinha muitos interesses de natureza social”.
Helena Rebelo Pinto conta que os seus pais lhe possibilitaram a realização de várias viagens que despertaram na psicóloga um grande interesse cultural, que ficou até hoje. Salienta ainda que teve “uma juventude muito inspiradora, aberta, estruturada e tranquila”. Conheceu o marido ainda jovem, namoraram bastante tempo e estão casados há 60 anos. Têm três filhos (uma é a escritora Margarida Rebelo Pinto) e sete netos, dois já casados.
Despertou para a psicologia um pouco tarde. “Interrompi o curso de economia [que viria a concluir mais tarde], casei-me, tive três filhos bastantes seguidos e dediquei-me à família. Ao mesmo tempo que estava na faculdade, fiz também um curso de francês no Instituto de Francês em Portugal. Durante alguns anos, dei explicações e entusiasmei-me muito pela educação e pelos problemas das crianças e dos adolescentes”.
Estávamos nos anos 60 e o interesse pela temática foi amadurecendo. Quando, em 1975, o curso de psicologia abriu na Universidade de Lisboa, Helena Rebelo Pinto candidatou-se e entrou. “A curiosidade foi sempre o que me inspirou. Gosto muito de saber coisas. Gosto imenso de saber coisas do aspeto humano”.
A paixão pela psicologia foi tal que, depois da licenciatura, fez o doutoramento na área do desenvolvimento cognitivo. Ficou a dar aulas na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, onde fez toda a carreira profissional, vindo, mais tarde, a acumular com a Universidade Católica, à qual continua, hoje, ligada.
Foi “através do cruzamento de muitas linhas” que a investigadora chegou ao estudo do sono. “Sou amiga de infância da professora Teresa Paiva, que é a grande especialista do sono em Portugal. Ela dizia-me muitas vezes que deveria trabalhar com ela, porque muitas vezes a melhoria do sono passa pela mudança de hábitos e que eu a poderia auxiliar nisso”. No presente, Helena Rebelo Pinto, trabalha também com Teresa Paiva e especializou-se no tratamento da insónia e na prevenção e da educação do sono.
Livro sobre envelhecimento é projeto
Todas estas tarefas profissionais e pessoais fazem de Helena Rebelo Pinto uma mulher plena, com uma vida de equilíbrios e harmonias, tanto na vida pessoal como profissional.
A entrevistada ainda tem projetos por concretizar e um dos mais marcantes é um livro sobre o envelhecimento. Terá uma abordagem multidisciplinar e congregará diversos especialistas. “Tal como no livro que já escrevi sobre a família, também aqui a ideia é ter um pensamento multidisciplinar sobre o envelhecimento. A grande questão sobre a ciência é a compartimentação. Os médicos pensam uma coisa, os advogados outra, os teólogos outra, etc. Faz falta às vezes uma obra agregadora. É esse o meu grande projeto para o futuro em termos profissionais”.
Claro está, porém, que a nossa vida não é só a componente profissional. “Os meus projetos pessoais para o futuro são, sem dúvida, interagir com a minha família, com o meu marido, com os meus filhos e com os bisnetos que um dia virão”.